| 04 NOVEMBRO 2013
ARTIGOS - GOVERNO DO PT
ARTIGOS - GOVERNO DO PT
Por que tanto desinteresse mundial em riquezas que o
governo anuncia tão promissoras e pródigas?
Em 2007, foi anunciada pela Petrobrás a descoberta de um
megacampo, batizado com o nome de Tupi. Passados três anos, depois de muito
Tupi para cá, Tupi para lá, o alto comando da Petrobrás resolveu trocar o nome
do campo para... para que outro nome, mesmo? Adivinhe! Pois é, depois de guri
grande, o campo de Tupi virou Campo de Lula. Há, em nosso país, uma histórica e
bem sucedida petrodemagogia. Quem entra no Portal Brasil, por exemplo, e lê a
nota do governo sobre o Campo de Libra e o Pré-sal vai pedir para ser congelado
hoje e levado ao microondas daqui a alguns anos. No entanto, é importante para
a política do poder que essas riquezas minerais, sepultadas sob quilômetros de
coluna d'água e ainda mais espessas camadas geológicas, rendam votos no
curtíssimo prazo.
Esse é o raciocínio que explica os abusos políticos e de
informação envolvendo a Petrobrás. Em 2006, o ex-presidente Luiz Inácio pousou
na plataforma P-50 e, minutos após, exibiu para os fotógrafos as mãos
lambuzadas de óleo extraído da Bacia de Campos. O fato foi comunicado à nação
como início da autossuficiência. O Brasil se tornaria exportador. A vaga na
OPEP estava logo ali, provavelmente ao lado da cadeira no Conselho de Segurança
da ONU. Mas o dito logo ficou pelo não dito. Os anunciados saldos positivos que
viriam para a balança comercial do país a partir de 2010 viraram saldos
negativos e assim se mantêm. Até o passado mês de agosto o Brasil já gastara,
só neste ano, US$ 28 bilhões em importação de petróleo e derivados e essa conta
joga no vermelho a balança comercial de 2013.
Pensando sobre isso, e já sabendo que quatro empresas haviam
desistido de participar, acomodei-me diante da tevê para assistir ao leilão do
Campo de Libra. A Globo News, sei lá por quê, demonstrava imenso interesse em
duas pacíficas e ociosas barreiras que se entreolhavam no meio da avenida. Numa
estavam alinhadas tropas militares. Noutra, pequeno grupo de manifestantes. A
tranquila cena atraía tanto a atenção da emissora que ela repartia
igualitariamente: meia tela para cada evento.
Assistir o leilão do campo de Libra me fez lembrar aqueles
filmes nos quais nada acontece e a gente resiste teimosamente só para saber
onde aquilo vai dar. E dá em nada mesmo. Perdi meu tempo testemunhando um
conflito que felizmente não houve e um leilão que infelizmente não aconteceu. O
único consórcio que apresentou proposta tinha a Petrobrás como líder e foi
declarado vencedor pelo lance mínimo admitido. Isso é leilão que se apresente
num negócio de tamanho porte? Por que tanto desinteresse mundial em riquezas
que o governo anuncia tão promissoras e pródigas? Mesmo assim, horas após, a
presidente veio a público festejar o resultado do evento e partilhar
hipotéticos trilhões de reais que sanearão todas as carências do país. É a arte
de gastar, retoricamente, recursos talvez alcançáveis em futuro remoto,
convertendo-os em votos na urna de logo mais.
No dia seguinte, ainda ponderando as patéticas cenas da
véspera, abro minha caixa de e-mails e o primeiro que me cai sob os olhos dizia
assim: "O Brasil comprou do Brasil uma reserva de petróleo para ficar com
40% para o Brasil". Disse tudo.
Publicado no jornal Zero Hora.
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