FIGURAS DA TERRA EDIÇÃO 10
Nesta edição tivemos a honra de conversar com um personagem que muito nos ensinou durante a entrevista com suas palavras sábias. Estamos falando do senhor Miguel Luiz da Silva, 73 anos, residente na fazenda Formosa – Maetinga, há 43 anos. Local de nascimento, Fazenda Mandacaru. Seus pais chamavam-se Quintino José da Silva e Analina Rosa de Jesus. Bisavô: Zé Luiz. Numa conversa agradável que nos fez voltar aos tempos de sua mocidade conta como difícil criar seus filhos:
“Meus filhos por tudo, foram oito, morreu dois. Uma benção que Deus me deu, eu esforcei para ganhar o pão e criar meus filhos. Naquela época não era fácil. Derramava o suor da ponta do nariz até os pés. A camisa pregava na costa, dava uma gastura. Você podia tirar e torcer que ensopava. O suor Fazia Lama dentro do sapato. Quando eu andava o suor fazia barulho dentro do calçado. Tudo isso para ganhar o pão.”
Mesmo com essa idade, Sr. Miguel, ainda matem uma firmeza no corpo de dar inveja a qualquer jovem de hoje. Além de possuir uma boa memória e conseguir relembrar fatos de épocas distantes:
Lembro da crise de 66, que faltou água. Morreu muita criação de sede e fome. Até a agente mesmo passava sede. A valença é que tinha uma minação, dada por Deus, lá na vereda do meio. Minava da terra. O povo descobriu e foi aí que socorreu muita gente. Era noite e dia, toda hora que você chegava tava cheio de gente e criação. Aquela água era só pra matar a sede porque não tinha como agente beber à vontade. Essa fonte existe até hoje, mas dessa época pra cá nunca mais teve água. A água era da cor de uma cachaça. Se colocasse no copo de vidro ficava a mesma coisa. No meu terreno teve outra fonte, mas só presta pra criação porque a água é tão saloba que chega amargar. E ainda mina até hoje. Eu posso ficar o dia inteiro sem comer nada, mas bebo água não sei quantas vezes. E quem fica sem água?
Nesse instante o Senhor Miguel olha para a janela, faz um pausa e retoma:
Hoje mudou a era. Naquele tempo quando eu era menino, batia três quilômetros com uma lata de água na cabeça. Hoje o caminhão vem trazer em casa. Naquela época não tinha nada fácil, era tudo na base do macaco, como diz a história. Graças a Deus, pela a idade que eu estou alcançando, estou muito contente. Se eu morrer de uma hora pra outra, morro feliz.
Ainda lembra do trabalho duro com o machado no estado de São Paulo.
Trabalhei em São Paulo na base do machado. Botava um eucalípto de um metro de toco e cortava todo no machado. Quando era de tarde os braço tava moído. Quando eu chegava no pé da árvore pra derrubar, olhava pra cima e a vista sumia, de tão alta. Naquela época não tinha moto serra. Tudo era no machado. Quando a árvore caia, ia arrasando com tudo. Depois que tivesse no chão eu cortava e lascava no machado.
O Senhor Miguel, fala com certa indignação sobre as modas do tempo moderno e dos costumes medíocres de nossa era dizendo:
No meu tempo era a época que fi respeitava pai e pai respeita fi. Nem tudo, mas hoje ta o maior relaxo. A televisão ajudou a bagunçar. A maior parte das muié que aparece na televisão, pode dizer que é pelada. Eu não topo assistir. É por isso que hoje só aprendem o que não presta. Hoje se você vê um casal com sessenta ou setenta anos ainda tendo amor, é porque naquela época o respeito era outro.
Diante dessas palavras, foi possível aprender muitas coisas, e uma delas é que mesmo a era sendo outra, mesmo diante das facilidades dos tempos de hoje, os valores humanos, os sentimentos e as relações humanas, sejam elas de pai pra filho, marido e mulher etc, precisa de cuidados e atenção. E que valores como esse, tão essenciais à nossa felicidade, se encontra meio atolado em entre tantas ilusões e falsidades dessa tal era moderna.
W P de Souza.
jornalorelato@hotmail.com
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