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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ARTE E CULTURA -Ananias Ribeiro Sousa



Neste nosso Sertão há seca, labuta, estranheza e politicagem. Em uma extremidade clamor, na outra, coragem. Neste habitat vive também a esperança, a sinceridade e o encanto de uma arte que exprime seus dilemas e sentimentos de um povo forte. No sertão a cultura não somente existe como resiste a tantas barreiras.
Poetizar aqui é um ato de Amor, Cantar é condição praticamente voluntária, Escrever é se “Peripeciar” e Denunciar. Nas veredas da literatura sertaneja, ilustram-se os “cabras da peste”, denominados Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Também Zé Walter e Roberto Santos, de Brumado; Fonzim, de Anagé; Jota Neris e Ananias, de Aracatu.
Nestas redondezas, lá pelas divisas do município de Aracatu-Ba com Anagé-Ba, reside um poeta sertanejo por natureza e opção, Ananias Ribeiro Sousa. Um camarada acostumado a despertar antes do sol, lidar com a capina e o roçado. Respira diariamente o aroma da flor do maracujá do mato e da fruta de quiabento. Ora escorre o facão sobre a palma, ora alimenta o gado. É um amante autêntico da leitura, pois, apesar da labuta sertaneja de cada dia, atua como professor durante a noite, na educação de Jovens e Adultos do Programa Brasil Alfabetizado.
Ananias, 23 anos, morador da comunidade de Lagoa do Prado, cerca de 45 quilômetros da sede, atento ao seu ambiente sócio-econômico e cultural, observador das belezas e das mazelas do Sertão, sabe delicadamente imprimir estes fatos em forma de poesia. “A vivência do sertão, a religiosidade católica, a bíblia, são minhas inspirações”, diz Ananias.


Este poeta, pouco valorizado em sua terra natal, encontrou espaço para alastrar sua arte, no Festival Nacional de Poesia, em Botirama-Ba, no Natal da Cidade de Vitória da Conquista e na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sem contar que seu áudio-livro (CD) de poesias, lançado em 2007, percorre o Brasil. Fonzim relata que tem como mestres, os poetas Fonzim e Gutemberg, de Anagé e Vitória da conquista, respectivamente. Ananias, além de descrever sobre o Sertão, com seu violão fiel canta MPB e Forró e pronuncia-se sobre temas universais, a saber: a fome, a desigualdade social, a honestidade e a migração. O Próprio já diz: “Eu nasci só, mas sô do mundo inteiro, hoje tô no Brasil também lá no estrangeiro...”


SECA FEIA

Deus me fez debaixo do sol
Nas veredas do Sertão
No estado de Pernambuco
Paraíba e Maranhão
Ceará e Alagoas
E os outros não lembro não.
Veja agora quem sou eu meu amigo Nordestino,
Sou a triste seca feia e secai meu destino.
Sai da frente, sou valente, eu te faço ficar fino
Já sequei pé de cagaita, de vaqueta e cansação
E até lagoa d’agua, Lagadiço, Caldeirão
Coqueiro, Imburana, Imburuçu e canjoão.
Enquanto a chuva mata
Se relaxa lá no céu
Vou queimando o Nordeste
Cubrindo com meu véu
Resecano São Francisco
Com meu gogozão cruel
Resseco até os brejos
Transformando-os em poeira
Faço garça avoar e sumir da catinguera
Faço vaca emagrecer e dispencar na ladeira.
Mato cabra e ovelha pra vê corpos pelo chão
Todos cheios de urubu, de goró e formigão
E se duvidar de mim, mato toda criação
Quem tem muita fé em Deus pede
Chuva pra chover
Pre’u sumir da catinguera e pros bicho reviver
Pra plantar feijão na terra
Pra depois o recolher.
Mas se o cabra não tem Fé,
Sofre muito em minha mão
Por que eu sou miseravel,
Bicho ruim sem coração
Queimo a fauna e a flora
Sobre o solo do Sertão
E se a chuva não chover
Eu seco o Rio Gavião
Também seco o Solimões
E todos os rios do Sertão
Seco todos rios do mundo,
Sem esquecer do Jordão,
Onde o cristo batizou
Pra lhes dá a salvação.
Também seco o Mar Vermelho
Pra ver morrer tubarão
Isso é se Deus quiser
Que eu vô secano a pé
Só pra vê o sequidão.

Ananias Ribeiro Sousa
Contato: (77) 8114-4437


Erivan Coqueiro Sousa
erivancoqueiro@gmail.com - 81297754

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