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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Figuras da Terra


Ana Rita Rodrigues (Vó Rita). A avô de 1000 netos.

Moradora na Lagoa do Sertão (Aracatu), é dona de casa e agricultora, mas seu ponto forte foi servir na profissão de parteira. Nascida em 18 de fevereiro de 1911, está chegando aos cem anos se destacando pela força e disposição. Ela nos conta suas aventuras e lutas para fazer os partos de mais de mil crianças da região de Aracatu. Hoje muitos deles, já adultos, lhe chamam de “vó”. Por isso ela é considerada avó de mais de mil netos. “Eu não cobrava nada pelo serviço de parto e eu fazia tudo por amor. Não havia médico na cidade, o mais próximo era em Brumado. Quando alguém me dava alguma coisa, eu pegava por atenção. Acho que fiz mais de mil partos. Fiz parto aqui na região. Fiz no município de Brumado e até em Anagé. Os casos mais difíceis eu mandava para Brumado, mas sou muito feliz, porque em minhas mãos não morreu nenhuma mulher de parto. Tem muitos de Aracatu que foi eu que peguei quando nasceu, hoje já ta tudo grande, tem muitos que já é pai e mãe, eu nem conheço mais. De vez em quando aparece um aqui pra mim dar benção, isso é gratificante de mais. Sofri muito por onde andei. Muitas vezes andava tarde da noite, tomava chuva e sol. Teve uma vez que vieram me buscar em um cavalo bravo. Quando amontei o danado me jogou no chão, os homens foram embora e me deixara lá caída. Mas graça as Deus não teve nada grave. Deus ajudou na minha profissão.” Diz. Vô Rita é mesmo uma figura, com dom de Deus aprendeu a profissão sozinha. E o mais interessante é que o primeiro parto que ela fez muitos diziam que a mulher não estava grávida por ter a barriga tão pequena. Diziam que as dores era problema de saúde. Vô Rita discordava e dizia, “daqui pra pouco o menino chora”, não dava outra, para confirmar hoje ele é um adulto e vive na região de Lagoa da Pedra. Vô Rita disse ao Relato, que ainda faz “umas coisinhas”, cata andu, “panha feijão”, busca água no tanque, molha as plantas, vai nas casas dos vizinhos e se deixar ainda busca lenha no mato. De vez em quando ela ainda arrisca dançar um forrozinho. Foi em várias festas de casamento de pessoas que ajudou nascer. Isso é que é disposição. Ficamos felizes em conversar com ela e de ver em seu semblante a alegria de lembrar do passado com segurança e lucidez. Estou feliz em saber também que vim ao mundo com a ajuda de Vó Rita, parteira.


Hermes Leite
jornalorelato@hotmail.com

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