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segunda-feira, 2 de abril de 2012

A seca não é o problema (Texto dedicado especialmente ao povo aracatuense)

Aracatu não é o lugar mais seco do mundo. E mais, nosso problema não é a seca. Esse fenômeno pode ocorrer em qualquer parte da terra, seja na America do Norte, na Nova Zelândia, ou na África. A seca é apenas um fator natural, conhecido no Brasil desde o século XVI, portanto não é coisa nova. Faz parte da geografia da região e, acredito, vai durar por muitos séculos, até que a natureza resolva mudar.  Nosso problema é que em quinhentos anos ainda não aprendemos a lidar com essa condição natural. Aceitamos ser vítimas da nossa sorte, vítimas da natureza, do destino sego, do acaso, meros reféns de nossas limitações da pobreza, da desgraça, dos políticos e de nossos vícios.  Enquanto sertanejos ainda somos péssimos em planejamento, em organização. Simplesmente “viemos”, ao longo do tempo por força da colonização,  para o chamado polígono da seca e não nos precavemos. É como se eu quisesse ir morar no Saara ou na Sibéria e chegando lá não me adaptar as condições climáticas daquele local. Em todas essas circunstancias se faz necessário a adaptação e planejamento. A própria natureza nos ensina. Olhe para as formigas, ou para o umbuzeiro que se preparam para o tempo da adversidade. O umbuzeiro armazena água em seus reservatórios localizadas nas raízes. Lembre também da passagem bíblica em que José interpreta o sonho do rei, prevê os sete anos de escassez na terra do Egito e alerta a faraó e assim o monarca edifica celeiros e ajunta víveres e o Egito subsiste assim com alimentos suficientes para nutrir o povo. Mas voltando ao nosso caso, por décadas, séculos, temos convivido com essa situação deplorável e desumana. E quase nada foi feito no sentido de solucionar o problema, exceto alguns paliativos interesseiros,  mas no sentido de apenas reforçar nossa deficiência, nossa dependência, nossa desgraça. Repito que Aracatu não é lugar mais seco do mundo. Nossas vidas podem mudar, podemos e temos o direito de ser felizes aqui.
Existe uma região, o deserto do Negev, localizada em Israel, bem mais seca do Aracatu.
 Para se ter uma ideia em nosso município, apesar da escassez d’agua, chove cerca de 500 milímetros por ano, e no deserto do Negev apenas 30 milímetros. No entanto essa região EXPORTA, tecnologia agrícola para o mundo.  Na foto abaixo, podemos observar uma lavoura no referido deserto...

Lá o desafio é produzir MAIS, com MENOS ÁGUA, MENOS TERRA. Nessa região se planta em todo terreno arável, em quintais, em beira de estrada. Lá uma vaca chega a produzir cerca de 10 MIL litros de leite por ano. Vale ressaltar que em Israel quase não existem pastagens. Os produtores criam seus animais confinados em galpões onde o teto pode ser retirado, automaticamente durante determinado período conforme a necessidade. Outro bom exemplo, é o Japão onde a terra é muito escassa e o povo planta até nos telhados das casas. Em Israel terra e água são itens extremamente preciosos. Cito Israel pois seu clima, solo pedregoso e sinuoso é ainda mais rigoroso que o nosso. muitas regiões no planeta são parecidas com a de Aracatu, exemplo o estado do Arizona na América do Norte onde inclusive já tentaram introduzir o umbuzeiro lá, o sul da Australia também tem seu semi-árido. A grande diferença está no modo como esses povos vencem a seca, que é comum nesses lugares. Quem nunca viu em nossa cidade alguém com uma mangueira lavando o carro ou a moto, desperdiçando água, varrendo a calçada com o jato (iten que agora está fazendo falta)? Quem nunca deixou a torneira ligada derramando, pingando, vazando? Repito que nosso problema não é a seca, mas nossa ignorância em relação a ela.

Observando a seca ao longo da história poder-se-ia desenhar um gráfico, e chegaríamos à conclusão que ela obedece a uma regra não tão caótica. Ou seja, teoricamente a seca se repete a cada dez anos, e no período de cem anos ela vem cerca de três vez de forma violenta.  Com base nessa simples observação, a população juntamente com os gestores poderiam se precaver a fim de evitar o que hoje estamos vivendo. Carro pipa é salvação pra quem precisa, é um dever do estado e direito do cidadão mas não resolve o problema, é combater os efeitos e não cortar o mau pela raiz. Aliás, percebe-se que nossos governantes não querem definitivamente resolver o problema da seca. Parece que há interesse em manter esse verdadeiro mercado da desgraça, essa indústria de votos. Isso em todas as esferas de nosso apodrecido sistema político. E aí deixo uma pergunta ao caro leitor, porque vão gastar milhões com a copa e comemorações festivas, mas não tem dinheiro para acabar com a seca no sertão? Fica a pergunta. Vale ressaltar que no Brasil os impostos são altíssimos. Mas os políticos não tem culpa. Nenhum político é culpado pela seca.  Somos nós os maiores responsáveis pelas nossas desgraças. Falhamos ao escolher nossos representantes. Falhamos com nós mesmos. Eles são nada menos que o reflexo da massa. Todo povo tem o governo que merece, não é o que se diz? É muito fácil culpa-los. O que na verdade nunca temos coragem de fazer é procurar mudar a nos mesmos. LUTAR VERDADEIRAMENTE por condições melhores. O POVO FORMA A BASE DA PIRÂMIDE, É O POVO QUE SUSTENTA A MINORIA QUE ESTÁ NO PODER. NÃO FAÇA DA POLÍTICA UMA OCASIÃO PARA GANHAR BESTEIRAS, BARRELA EM TROCA DE VOTO, OLHE PARA SUA SITUAÇÃO. FAÇA DA POLÍTICA OCASIÃO PARA DEMONSTRAR SUA REVOLTAR E VARRER DO NOSSO SENÁRIO TUDO QUE NÃO SERVE E SÓ NOS ATRAPALHA. 

Em suma, pode-se concluir que se o sertanejo aracatuense quiser vencer a seca, terá que aprender a planejar, buscar conhecimento. É incrível, mas a maioria das pessoas ainda queima roça. Isso é técnica antiga usada pelos índios, e pelos primeiros habitantes, poderia até funcionar há algumas décadas atrás, quando podia-se esperar a chuva em uma época certa, mas hoje os tempos mudaram, o clima mudou e além do mais, queimar roça, está comprovado que destrói o solo, a matéria orgânica, aumenta aquecimento global e só piora nossa situação. O planeta tem vida própria e se vinga do homem. Não sou agrônomo, não entendo nada de terra, mas penso que nossos métodos de cultivar a terra já estão defasados a muitos anos, o gado compacta a terra, endurece o solo, fazendo do solo um verdadeiro bronze, aí vem a queimada torna o lugar mais ainda com cara de deserto, junte-se o fator seca e o que temos?

Penso também que  somente arar a terra com um arado velho e jogar semente e rezar para chover Já não vai encher a barriga de nossas crianças. Temos que nos educar buscar conhecimento e tecnologia.

Vivemos a era da inteligência, onde se busca produzir mais com menos força bruta. Um dia desses, um bitrem carregado atolou no meio da estrada, afundou literalmente falando. Devia estar com 60000 quilos. Daí veio um tratorzinho, desses verdinhos que eu não vou dizer a marca. Todo mundo achou que não ia conseguir desatolar o bitrem já que duas pá carregadeiras não foram capazes de desatolar o monstro. Mas não só desatolou como arrastou a caminhão. Detalhe, esse trator possui comandos eletrônicos, computador de bordo, GPS e ar condicionado. Um trator possui tudo isso? Sim. Um trator. E o que dizer das inovações nas sementes, resistência a pragas, fungos, a seca, em fim, há uma vasta tecnologia à disposição do agricultor. Mas aí você diz, nosso povo nem sequer tem condições de abrir um poço artesiano, e lá vem você falar de trator que custa quase um milhão. Realmente, investir no campo custa muito, tempo, dinheiro e conhecimento e tecnologia. Mas vale ressaltar que o governo disponibiliza recursos para quem de fato quer produzir. A exemplo dos grandes produtores do Rio Grande do Sul, dos produtores do leste do Tocantins, sul do Piauí, oeste da Bahia. Eles fazem empréstimos de 5 milhoes, 10 milhoes etc. e o agricultor de nossa região? Empréstimos de 30 mil reais, 10 mil reais para quê? Plantar milho, feijão uma rocinha aqui, um quintal de palma ali, comprar uma motinha, construir uma casa na cidade, que não oferece emprego nenhum...digo que agir assim é demonstrar uma atitude pequena, mesquinha e não ter do governo nenhuma consideração. E quando consegue esse empréstimo, é com muita burocracia e dificuldade. Ou será que estou exagerando?

Vencer a seca vai muito além de disponibilizar carro pipa ou até mesmo construir barragens, e ouso a dizer que se construíssem barragens em todo município não resolveria totalmente o problema. Teríamos muita água, mais desperdício, mas ainda sim continuaremos pobre de espírito, secos de conhecimento. Os prováveis donos das terras nas margens dessas prováveis barragens fariam plantações somente pra si próprio e a maioria continuaria na pobreza...
Não virá uma solução do governo. já comprovamos isso ao longo dos anos. Somo nós que temos que vencer superar a seca. Se assim não for, continuaremos sofrendo, vendo nossos filhos migrarem para terras distantes, continuaremos ver as águas dos anos bons de chuva escoando pelos riachos e indo embora para ao mar. Continuaremos a mercê desse sistema imoral que aí está. Pense nisso. Vencer a seca não é uma tarefa somente do agricultor (a quem tenho muito respeito), vencer a seca é uma luta de todos os aracatuenses.

Saúde e Paz nessa Páscoa.

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