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quinta-feira, 1 de julho de 2010

A proza das cumadi


A PROZA DAS IDOSAS

- Cum vai cumade?
- cum vai cumade?
- ocê ta boa cumade?
- Não to muito não cumade.
- Por que cumade?
- É cumade, depois que vim da roça pra cá, pra cuidar da minha saúde, aqui a coisa só piorou.
- Cuma assim cumade?
- Por que aqui quais colado na minha casa, tem uma quadra que é um horrore...
- É cumade?
- É cumade.
- É um barui danado cumade. Cumeça às 5 da manhã e tem dia que vai até à meia noite. É pancada de bola, grito de gente e fuguete em cima das minhas teias. Num to cunsinguino drumí com a fuzarca. Essa noite mermo, foi um sufrimento imundo. Teve uma festa aí, cumeçô pela manhã e varou a noite. Foi som arto, gente baruiando e quando acabou a festa as muiê danô uma gritaria.
- Cumade, cumade! Aqui perto tem muita gente idosa...
- Pois é cumade, sou idosa, tenho sérios problemas de saúde, tomo remedo pra pressão arta e pra cumpretá tem uns mininu pulando o muro e quando acaba o jogo ainda tem uns barui de apito. Será se é gente ou cascaveli cumade?
- Aqui na cidade não tem cobra não cumade.
- Será cumade? Hoje mermo vi outras coisas istranhas. Quando abri o portão do fundo, tinha muito lixo: copos, papel, plásticos, garrafas e uns saquinhos diferentes. Será o que era aquilo cumade?
- Sei não cumade.
- É cumade, a coisa ta feia. É uma lambança!
- Ocê não vai denunciá não cumade?!
- Denunciá aonde cumade?
- Ué cumade, prus homi da lei...
- Mai eu não agüento ir lá e não sei se resolve.
- Na radia cumade?
- É cumade, diz que lá não pode porque os donos tem medo de fechar a radia.
- Será?
- E no jornali?
- O que é jornali cumade?
- É um papeli que iscrevi o que acuntece na cidade e na região. Dispois o povo lê e fica sabendo de tudo.
- Mas será se vai resolver cumade?
- Não sei não, mas as autoridades lê e fica sabendo e pode providenças.
- E come é que faz pra botar no jornali cumade?
- Ocê pode pedir sua neta pra ligar pra eles vir aqui, porque diz que tem que tirar foto da gente e a gente tem que assinar de baixo pra provar que a agente falô mermo.
- E quem é povo do jornali cumade?
- Diz que aqui na cidade é cinco homi e duas muié e ni Brumado tem dois. E nas outras cidades tem um em cada lugar.
- É cumade, acho que vou voltar pra roça. Por que alem disso tudo o meu dinheiro da apusentação não ta dando pra nada. Lá na roça não pago água, o imposto do PTU, não compro gás, só pago a taxa da luiz e posso criar umas galinhazinhas para ajudar nas dispesas.
- É cumade, se eu pudesse eu ia também. Por que a cidade ta crescendo e as coisas ruim ta omentando, não tem imprego pra todos, já tou ficando veia e ta um fregelo danado.
- Cumade a proza ta boa, mas vou lá em casa porque minha neta vai pra dificuldade.
- Né dificuldade não cumade. É faculdade!
- Seja lá o que for mais tenho que ir, porque tenho que tomá os remeidos da pressão e casa não pode ficar só pru mode ladrão.
- Ta bom cumade, dispois a gente pruzia mais, porque se for falar dos sofrimentos dos veios, não tem jornali que dá.
- Tê já cumade!
- Tê já cumade!

Hermes Leite dos Santos
jornalorelato@hotmail.com
77-8135-7089

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